quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

António Alçada Baptista

Extratos da reflexão de António Alçada Baptista na obra O riso de Deus.
"Acho que a grande criatividade é aquela que soubermos pôr nos nossos atos: fazer da nossa vida uma obra de arte: pôr na nossa vida a nossa individualidade mais identificada e com um verdadeiro sentido estético na relação com os outros e com o mundo, é a nossa grande criação."

"Amar é uma atitude de compreender e aceitar: é reconhecer os outros e respeitar a sua liberdade."

"Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós andamos às voltas sem sermos capazes de o encontrar(...) e talvez seja necessário despojarmo-nos de muitas coisas e tornar a vestir as vestes da inocência para que o amor nos possa ser revelado."

"A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana. Tudo me leva a crer que as marcações que nos deram para o desempenho da vida passam ao lado do caminho por onde os nossos afectos poderiam fluir conforme o que está inscrito no mapa oculto do ser humano(...) Algumas vezes, até parece que a simplicidade emana do andamento da vida e que bastaria um pequeno gesto de espírito para passarmos para o lado de lá de tantas incomodidades que nos fazem viver como se tivéssemos calçado dois números abaixo da forma da alma."

"Procurei analisar o que são as minhas angústias. Creio que são assim uma espécie de reacção a uma forma incómoda que impede o meu desenvolvimento. Como se eu, periodicamente, tivesse que fazer um esforço para alargar o meu espaço, como se o estado do meu projecto interior não fosse cabendo no módulo que estou a usar.
Depois de cada depressão sinto que qualquer coisa em mim ficou mais livre. É como se eu estivesse preso com várias cadeias e, depois de atravessar o túnel da depressão, conseguisse libertar-me de uma. Pergunto-me se cada homem não estará aprisionado pelos modelos de comportamento que herdou e se isso não atingirá a própria respiração da sua alma(...)
As minhas depressões talvez sejam as minhas metamorfoses: é a maneira que eu tenho de passar de lagarta a crisálida. São etapas de libertação."