sábado, 12 de maio de 2012

Sandor Marai

*AS BRASAS, de Sándor Márai
                                César Garcia
 Romance denso sobre a amizade e a traição. Dois homens, ambos militares, amigos desde a infância, encontram-se para tirar dúvidas depois de quarenta e um anos de um afastamento aparentemente inexplicável. A conversa dura toda uma noite e ocupa cem páginas das cento e setenta e duas do livro. O general, Henrik, dono do castelo em que se encontram, fala quase o tempo todo e apenas pede que o amigo, Konrad, responda às suas perguntas. São duas, as principais: se o amigo tinha tido um romance secreto com Krisztina, mulher do general e se, na última caçada, ele apontara a arma para a sua cabeça a fim de matá-lo, e não para o cervo que se encontrava na mesma linha.  O autor, de nacionalidade húngara, nasceu em 1900 e morreu em 1989. No Brasil, a Companhia das Letras publicou também O Legado de Ezter, Veredicto em  Canudos, Divórcio em Buda, Rebeldes, Confissão de um Burguês, De verdade e Libertação.
Veredicto em Canudos, a ação se passa no sertão da Bahia e foi escrita em 1960, depois de ler Os Sertões de Euclides da Cunha. 
Sándor Márai publicou mais de 60 livros.

 Em 1989, 
 suicida-se Morava em San Diego, nos EUA.
EXCERTO DE AS VELAS ARDEM ATÉ O FIM  DE SÁNDOR MARAI
ENVELHECER
Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o significado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer… Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exatidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal… e isso é precisamente a velhice.


* Tradução de Rosa Freira D´Águiar – Companhia das Letras, 172 p.

Sem comentários:

Enviar um comentário