sábado, 11 de agosto de 2012

Aspectos do Romance, Edward Forster, Parte III : AS PESSOAS


Retirado do Blogue :

Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise – Oficina de Criação Literária Clarice Lispector

 

RESENHA DE A HISTÓRIA, PARTE II DO LIVRO ASPECTOS DO ROMANCE DE EDWARD MORGAN FORSTER 

* Escrito em Português do Brasil


 Aspectos do Romance é um estudo sobre o romance. O autor garante não ter a pretensão de ser “científico”, por isso o título de “Aspectos”, mas de permitir ao leitor olhar de diferentes maneiras o romance e dar ao próprio romancista a oportunidade de ver o seu trabalho. A linguagem coloquial adotada resulta de a origem ter sido as conferências que ele realizou na Universidade de Cambridge ao suceder T.S.Eliot.
Edward Morgan Forster, mais conhecido por E. M. Forster, (1879 a 1970), inglês de família tradicional, orfão de pai aos dois anos de idade, foi educado pela mãe, com quem manteve ligação extremamente forte. Virgínia Woolf critica em seu diário o fato de ele, homem já maduro, refugiar-se com a mãe em Weybridge, uma velha, niquenta & severa, numa casa velha, a uma milha da estação.
Ele frequentou o King´s College, em Cambridge, onde conheceu as pessoas que formaram o o grupo artístico e literário Bloomsbury, cujos participantes eram chamados de Apóstolos, passando a fazer parte dele. O grupo ficou conhecido, também, como a máfia da intelectualidade, por usar rituais secretos. Após a morte da mãe, ele foi eleito membro honorário do King’s College, onde viveu até ao fim dos seus dias.
Escreveu vários livros, entre ensaios, contos e romances: Where Angels Fear to Tread, The Longest  Journey, Um quarto à vista,  Howard´s End e Passagem para a India, estes dois últimos objeto de belos filmes, Maurice e Artic Summer (incompleto). Publicou ainda três livros de contos: The celestial omnibus and other stories, The eternal moment and other stories, mais tarde reunidos num só volume, e postumamente The life to come and other stories. Dos 14 contos ali reunidos, apenas dois foram publicados antes da sua morte, pois assim como Maurice, a maioria dos contos explorava temas homossexuais.
Estudioso de Teoria Literária, seu livro Aspectos do Romance, razão desta resenha, foi publicado em 1927 e ficou célebre pela sua classificação das personagens em esféricas ou planas, tornando-se a sua obra teórica mais conhecida.
O primeiro aspecto considerado no livro é A História, aspecto fundamental de todo romance, segundo o autor. Para defender a sua tese ele faz uso de metáfora sonora ao estruturar os seus argumentos com base no tom de voz em que o leitor respondia a pergunta: O que é que um romance faz. Na verdade, por trás do tom de voz ele situava o leitor no seu contexto social, econômico e cultural, usando substantivos e adjetivos que não deixavam dúvidas sobre o sujeito da fala, nem sobre a sua relação de simpatia ou antipatia por ele. Assim, o leitor-motorista, cidadão comum, de recursos econômicos e culturais limitados, contava com o respeito e a admiração do autor ao responder, de forma plácida, que não sabia bem… que aquela era uma pergunta engraçada…, mas que ele supunha que o romance contava uma história. Por outro lado, o leitor-golfista, cidadão amealhado, arrogante e agressivo na resposta: Ora, conta uma história, é claro, pois assim era o seu desejo, dele e da mulher, diga-se de passagem, sendo tal desejo soberano, nada mais podendo lhe interessar, embora dispusesse de recursos social e econômico para maior refinamento cultural, e ainda exibindo profundo desprezo pelas artes, Você pode ficar com a sua arte, a sua literatura, a sua música, desde que me dê uma boa história, desnecessário seria dizer o quanto o autor o achava detestável e ao mesmo tempo temia tal leitor, pois para ele, E.M.Forster, a arte valia à pena pela arte. E, por fim, o tipo leitor-beletrista, em que ele mesmo se inclui, que cheio de desânimo e pesar responde: Oh, sim, meu caro, sim, o romance conta uma história, pois ele bem que gostaria de que assim não fosse, que o romance pudesse ser algo diferente, como por exemplo, melodia, percepção da verdade, e não esta baixa forma atávica.
Pouco importa o lugar que o sujeito ocupa na sociedade, enquanto leitor desejante há um máximo divisor comum que une a todos ao ler um romance: a  história que ele conta. Mas é do lugar de leitor-beletrista, daquele que lamenta que assim seja, que ele vai mostrar o que realmente significa a história no romance.
Por que lamenta o beletrista? Afinal, a unanimidade deveria ser suficiente para acalmá-lo. Não, não, não, diz ele, se forem retirados da história todos os seus refinamentos pouco resta para admirar. O que mantêm a história viva desde o homem de Neanderthal, quando ela era contada ao redor de uma fogueira, é o desejo dos ouvintes de saber o que vai acontecer depois, tal qual o esposo de Sherezade nas Mil e uma noites, e outras tantas audiências de seu tempo – do autor – para quem a curiosidade primitiva ainda prevalece sobre qualquer julgamento literário. Assim, ele resume que a história tem apenas um mérito: fazer a audiência desejar saber o que acontece depois. E, inversamente, pode ter uma única falta: fazer com que o auditório não queira saber o que acontece depois.
Apesar disso ele reconhece que a história tem muito a ensinar. E começa por apresentar a sua conexão com a vida cotidiana, usando o sentido de tempo e o senso de valoração sempre presentes nela: … a vida cotidiana, qualquer que seja, é praticamente composta de duas vidas – a vida no tempo e a vida dos valores; e nossa conduta revela uma dupla fidelidade: “ Eu a vi só por cinco minutos, mas valeu a pena”. Igualmente, o papel da história é narrar a vida no tempo, enquanto que o romance como um todo –se ele é um bom romance – tem o papel de agregar-lhe valores, a partir de alguns recursos ficcionais, prestando, assim, dupla fidelidade. E reforçando o seu argumento ele diz que no romance a fidelidade ao tempo é imperativa, mais do que na vida cotidiana, quando as pessoas chegam a negar que o tempo existe, que até podem esquecer que o relógio está tique-taqueando, e agirem segundo tal pensamento. Um romancista não pode fazer assim, ele jamais poderá ignorar o tempo dentro da textura do seu romance. O escritor pode usar de muitos artifícios para tentar esconder o tempo, assim como Proust, Emily Brontë e Sterne o fizeram, mas nenhum deles contradiz a tese do autor de que : a base de um romance é uma história, e a história é uma narrativa de acontecimento dispostos em sequência no tempo.
Ainda no desenvolvimento da sua tese ele passa a analisar as obras de alguns escritores. Começa com Sir Walter Scott, escritor inglês ( 1771-1832), criador do genuíno romance histórico. Antes dele alguns autores haviam procurado essa modalidade literária, mas o público e a crítica não compreenderam a intenção.A análise crítica do autor é bastante severa: Não sabe construir: não possui nem despreendimento artístico, nem paixão. Apesar disso, ele reconhece a fama do escritor e a atribui a dois fatores. O primeiro deles, a razões sentimentais, porque ouviram na juventude a sua leitura em voz alta, associando-a com lembranças de momentos felizes. E o segundo, porque ele sabia contar uma história.Tinha o primitivo poder de conservar o leitor em “suspense e brincar com a sua curiosidade.O texto analisado é O Antiquário que ele esmiuça, apresentando diversas falhas, mas acaba por concluir que é um livro em que a vida no tempo é celebrada instintivamente pelo romancista.
Em seguida, ele faz breve comentário sobre The Old Wives´Tale, de Arnold Bennett, publicado em 1908 com grande sucesso, considerado uma obra prima. Neste romance o tempo é o verdadeiro herói,.o processo de envelhecimento dos seus personagens é surpreendente, até o cão da casa velho e reumático arrasta-se para ver se resta alguma coisa no prato. E ele reconhece que é um livro muito forte, sincero e triste, mas contesta a sua grandeza, grandeza que ele vai encontrar em Guerra e Paz de Tolstoi. Segundo  Forster, ali não só o tempo, mas o espaço, também, foi contemplado, podendo até ser dito que o espaço é que é o senhor do romance, espaço da imensa área da Rússia, das suas florestas, das suas pontes e rios congelados, dos jardins, estradas e campos.
E para concluir a sua argumentação ele diz que a história, além de dizer uma coisa depois da outra, acrescenta algo por causa de sua conexão com uma voz. Assim, como repositório de uma voz, ela pede para ser lida em voz alta, não pela cadência ou melodia, para estas o olho é suficiente, por mais incrível que pareça,  mas dada a sua primitividade, antes mesmo da descoberta da leitura, a “voz” que fala, a voz do narrador da tribo, agachado no meio da caverna atrai o que há de primitivo em nós, exigindo que nos transforme de leitores em ouvintes.
Por todos os argumentos apresentados é que ele insiste para que os ouvintes de sua conferência não respondam com a inocência do leitor-motorista quando lhe perguntarem o que um romance faz, porque eles não têm esse direito, e eu acrescento, não têm mais a inocência daquele leitor; também não respondam tal e qual o leitor-golfista, porque a eles não cabem o perfil porque têm muito mais sabedoria; digam assim como ele, e não tenham dúvida de que estarão certos, embora um pouco tristes, pesarosos: sim – oh, meu caro, sim -, o romance conta uma história.
Edward M. Forster, com certeza, não é um ensaísta-conferencista plácido, para usar o seu adjetivo. A medida que lemos o seu texto surpreendemo-nos com o tom contundente, margeante da grosseria, algumas vezes. De qualquer forma, a geração dos anos vinte foi uma geração vanguardista que se caracterizou pela quebra de padrões no fazer literário: James Joyce no ápice da pirâmide, Virgínia Woolf uma das suas mais brilhantes seguidoras. Além disso, pertencer ou ter pertencido ao Bloomsbury, grupo intelectual inglês de grande expressão, já lhe dava a licença poética necessária para se expressar como bem quisesse, até para fazer citações pessoais do tipo: Poderia ter sido um escritor mais famoso se tivesse escrito e publicado mais, mas o sexo não permitiu esta última. (Wikipédia). Afinal, o máximo divisor comum é eles serem todos herdeiros de Flaubert na busca por um escrever absoluto, sem amarras, medidas ou fronteiras:
   O que me parece belo, o que eu gostaria de fazer, é um livro sobre nada, um livro sem amarra exterior, que se sustentaria pela força interna do seu estilo, como a terra, sem estar sustentada, se mantém no ar, um livro que não teria quase tema, ou pelo menos em que o tema fosse quase invisível, se é que pode haver. As obras mais belas são as qu têm menos matéria; mais a expressão se aproxima do pensamento, mais a palavra cola em cima e desaparece, maior é a beleza.
Assim, não poderia deixar de ser triste a resposta do leitor-escritor-beletrista: Sim, o romance conta uma história.
                                                                 Jaboatão dos Guararapes, 08 de março de 2009          
                                                                                               Lourdes Rodrigues  


Na Parte III de Aspectos do Romance, Edward Forster aborda tópico importante desse tipo de narrativa: as personagens. No texto, entretanto, ele parece ter esquecido a geometria euclidiana, especialmente no que se refere ao famoso princípio de que a menor distância entre dois pontos é uma reta, usando de volteios entediantes ao argumentar sobre o tema. Tal atitude deixou-nos algumas vezes perdidos, carecendo de retorno ao porto da partida, única e confortável certeza em meio a essa viagem.
 Já no início do ensaio/palestra ele altera o nome personagem para pessoas sob o argumento de que a experiência com animal não teve êxito, em vista do desconhecimento até aquele momento de sua psicologia. Talvez ele devesse ter relido (com certeza leu algum dia) os pensamentos de Confúcio, pelo menos o primeiro dos seus mandamentos que diz A vida é realmente simples. Nós é que insistimos em torná-la complicada. Ora, personagem é sinônimo de pessoa, e mesmo quando é objeto, animal ou vegetal, seus sentimentos, suas reações são sempre antropomorfizadas.
 Apesar disso, o texto não perde em qualidade, valendo a pena mergulhar no labirinto e seguir as pistas de Ariadne para não perder o caminho de volta.
 Forster diz que a pergunta que vai acompanhar o leitor agora não será mais o que vai acontecer depois, tão presente na história que se conta, conforme visto no capítulo anterior. Ela será substituída por a quem aconteceu o fato que está sendo narrado, exigindo do leitor além de curiosidade, muita imaginação e inteligência.
 No processo de criação de personagens ele vê um facilitador para o romancista que é a afinidade pré-existente entre eles, derivado do fato de ambos pertencerem ao humano, diferentemente do que ocorre em outras formas de arte. Pintor, escultor e poeta dispensam tal ligação porque eles não precisam representar seres humanos, não é uma condição imposta pela sua arte, a menos que o desejem. O músico mesmo que ele quisesse jamais poderia fazê-lo. Contrariamente aos seus colegas, o romancista arranja uma porção de massas verbais, descrevendo grosso modo a si mesmo (grosso modo, as sutilezas virão mais tarde), dá-lhes nomes e sexos, determina-lhes gestos plausíveis e as faz falar por meio de aspas e talvez comportarem-se consistentemente. Essas massas verbais são suas personagens.  
 Prosseguindo, o autor diz que o processo de criação dos personagens não é frio, podendo acontecer em delirante excitação. E sempre resultará da visão que o criador tem das pessoas e dele próprio, modificada por outros aspectos do seu trabalho, ponto objeto de investigação futura, segundo ele, pois no momento lhe interessa ocupar-se da relação dos personagens com a vida real.
 E para adentrar no processo de criação ele começa por perguntar qual a diferença entre as pessoas num romance e as pessoas como o romancista ou como vocês, ou como eu, ou como a Rainha Vitória?Respondendo ele próprio que existe diferença obrigatória. Se o personagem é igual à Rainha Vitória, por exemplo, ele é a rainha e o romance ou o que se referir a esse personagem tornar-se-á Memória, porque ele se baseia em fatos, enquanto o romance não tem tal compromisso, ele se baseia em fatos mais ou menos reais às vezes. Para o historiador interessam as ações dos homens, e mesmo o caráter desses homens é deduzido dos seus feitos. A vida oculta é, por definição, velada e, quando se mostra através de sinais exteriores, não é mais oculta, já entra no domínio da ação. Ao romancista cabe revelar essa vida oculta, contar-nos mais sobre a Rainha Vitória do que se poderia saber e, desse modo, compor uma personagem que não é a rainha Vitória da História.
 Forster cita crítico francês que afirmou ter o ser humano dois lados, um apropriado à história e outro à ficção: Tudo que é observável num homem, quer dizer, suas ações e a parte de sua existência espiritual que pode ser deduzida das suas ações – cai no domínio da história. A parte romanesca que inclui as paixões genuínas, os sonhos, sentimentos de alegria, tristeza pertencem à ficção.
Para distinguir o real da ficção ele recorre aos chamados fatos principais na vida humana: nascimento, alimentação, sono, amor e morte. Começa por priorizar nascimento e morte, e diz tais fatos são conhecidos apenas através de informações, pois ninguém lembra como nasceu, menos ainda quando morreu, movemo-nos entre duas obscuridades, diz ele. Ao romancista, entretanto, tudo é permitido, pois ele conhece a vida oculta. Quanto tempo depois do nascimento ele tomará suas personagens? Até que ponto, na direção do túmulo, ele as acompanhará? E o que dirá, ou fará sentir, sobre essas duas experiências esquisitas?
 Longa e labiríntica caminhada ele faz pelos fatos principais da vida humana. A alimentação é um elo entre o sabido e o esquecido, diz ele, muito parecido com o nascimento, alem de restaurar as forças tem um lado estético, pode ter gosto bom ou ruim, e o que acontecerá nos livros essa mercadoria de duas faces?, pergunta.  O sono, em média, ocupa um terço do tempo de qualquer pessoa, e nos leva a um mundo pouco conhecido, e nos parece, ao deixá-lo, ter sido em parte esquecimento, em parte uma caricatura deste mundo e, em parte ainda, uma revelação. Sem querer discutir a natureza do sono ou dos sonhos, Forster diz que a História não se ocupa com esse terço e a ficção, pergunta ele, tomará uma atitude semelhante? Enfim, chega ao amor. Aqui ele faz uma longa digressão sobre o tema, concluindo que os seres humanos no estado de amor tentam receber e dar alguma coisa, e este duplo objetivo torna o amor mais complicado que o alimento e o sono. Quanto tempo ocupa o amor na vida das pessoas? Ele pode imiscuir-se no sono, na alimentação, mas Forster diz duvidar que um homem tenha comunhão emocional com qualquer objeto amado mais que duas horas por dia.
 De igual constituição, o romancista nasce, alimenta-se, dorme, ama, e ainda, toma a caneta em sua mão, penetra no estado de anormalidade que convém chamar inspiração, e tenta criar personagens. Em que medida os personagens criados pelos romancistas diferem dele, diferem dos seres que habitam a terra? Forster elenca uma série de divergências, começando pelo nascimento. Quando um bebê aparece num romance, tem o ar de quem foi enviado pelo correio: é entregue. Uma das personagens mais velhas é quem vai apanhá-lo e apresentá-lo ao leitor, depois do que ele desaparece até que possa participar da ação. A morte tem um tratamento que dá a impressão de que o romancista acha esse tema congenial, pois permite a ele encerrar com elegância um livro, afirma Forster. O alimento aparece apenas socialmente, reunindo personagens que o saboreiam, mas não o digerem. O sono também é tratado de forma perfunctória, sem qualquer indício de esquecimento ou do verdadeiro mundo dos sonhos. Estes são ora lógicos, ora mosaicos compostos por pequenos fragmentos positivos do passado e do futuro. Aqui se percebe a influência do pensamento freudiano, resultado da publicação na Inglaterra de A Interpretação dos Sonhos, pela Hogarth Press de Virgínia e Leonard Woolf.
 O amor ocupa espaço enorme nos romances. Para começar ele diz que o romancista quando deixa de desenhar os seus personagens e começa a criá-los, o amor em qualquer de seus aspectos ou em todos, torna-se importante em sua mente e, sem querer, faz suas personagens exageradamente sensíveis a ele – exageradamente, no sentido de que, na vida, não os preocuparia tanto. Segundo Forester, os personagens são reflexos do estado de espírito do romancista no processo de composição, e a predominância do amor é em parte por conta disso. Outra razão, é que o amor, como a morte, é congenial (essencial) para um romancista, pois ele também permite terminar o livro de modo adequado.  O autor pode fazê-lo durar para sempre, e seus leitores facilmente aceitarão isso, porque uma das ilusões ligadas ao amor é que ele será permanente: digo será em lugar de tem sido. (…)Qualquer emoção forte traz consigo a ilusão de permanência, e os romancistas agarram-se a isso.Em geral, terminam seus livros com casamento, ao que não nos opomos, pois emprestamos a eles nossos sonhos.
 Enfim, para concluir o seu pensamento, ele admite que o homo fictus seja mais indefinível do que o seu primo homo sapiens, por não ser possível universalizar, vez que é produto de centenas de mentes distintas de romancistas que utilizam em seu processo criativo os mais divergentes métodos de construção. Mesmo assim, ele se arrisca a dizer que ele (homo fictus) nasce, é capaz de morrer, requer pouco alimento ou sono, está incansavelmente ocupado com relações humanas e – o mais importante – podemos saber mais sobre ele do que sobre qualquer um de nossos semelhantes, porque seu criador e narrador é um só.
 Daí em diante ele passa a analisar um personagem de Daniel Defoe, Moll Flanders, porque ela enche o livro que leva o seu nome, ou ainda, permanece só como uma árvore num parque, de modo que podemos vê-la sob cada um de seus aspectos, e não somos incomodados pela vegetação que a cerca. Ele chama de vegetação aos outros personagens que atuam com ela, os vários maridos/amantes que ela teve e nenhum deles foi capaz de lhe roubar a cena. Segundo Forster, Defoe fez uma tentativa de enredo tendo o irmão-marido dela como centro, mas ele é muito simplório; e um outro marido, o legal, desaparece da cena sem deixar vestígio. Nada importa senão a heroína. (…) E tendo dito que ela parece absolutamente real sob todos os pontos de vista, devemos nos perguntar se a reconheceríamos caso a encontrássemos na vida cotidiana. (…) Poderemos, então, dar a resposta habitual encontrada em todos os manuais de literatura e que sempre deveria ser dada em exames, a resposta estética, no sentido de que um romance é uma obra de arte, com suas próprias leis, que não são as da vida diária, e que uma personagem dum romance é real quando vive de acordo com tais leis. (…) São reais não por serem como nós (embora possam sê-lo), mas porque são convincentes.
 Após dissertar sobre a questão de os personagens serem tirados da vida real ou não, o autor passa a analisar as dificuldades dos escritores para a caracterização. Dois expedientes são apontados por Forster como facilitadores dessa tarefa: o uso de diferentes tipos de personagens; e o ponto de vista.
 No primeiro, relativo ao uso de diferentes tipos, ele divide as personagens em planas  e redondas. A tradutora Maria Helena Martins, em nota de rodapé, diz que essa classificação das personagens em planas e redondas foi a maior contribuição de Forster para a literatura. As planas, chamadas de humorous no século XVII, às vezes tipos, às vezes caricaturas. Em sua forma mais pura são construídas ao redor de uma única idéia ou qualidade; quando há mais de um fator, atingimos o início da curva em direção às redondas. Entre as vantagens de se usar personagens planas estão a de elas poderem ser reconhecidas de imediato pelo olho emocional do leitor  e a de serem facilmente lembradas por ele. Permanecem inalteradas em sua mente pelo fato de não terem sido transformadas pelas circunstâncias, movendo-se através delas. (…) Nós todos queremos livros que perdurem, que sejam refúgios e que seus habitantes sejam sempre os mesmos, e as personagens planas tendem a justificar-se por causa disso.
 Os críticos, entretanto, nem sempre concordam com tal, ponto de vista, diz o autor. E cita crítico inglês que fez ácidos comentários sobre a obra de D,H.Lawrence, por ele não conceber as complexidades da mente humana comum; seleciona, para fins literários, duas ou três facetas de um homem ou de uma mulher,; em geral, os mais espetaculares e, por isso mesmo, proveitosos ingredientes de sua personalidade, desprezando todos os outros.  Nenhum ser humano é simples, diz Forster, mas o romance que tem alguma complexidade requer personagens planas e redondas,  e o resultado de seu entrechoque assemelha-se à vida com mais exatidão.(…) …devemos admitir que as pessoas planas não são, em si, realizações tão notáveis quanto as redondas e que também são melhores quando cômicas. Uma personagem plana séria ou trágica tende a tornar-se enfadonha. (…) Só as pessoas redondas podem atuar tragicamente por qualquer espaço de tempo e inspirar-nos qualquer sentimento, exceto o de humour e adequação. (…) O teste para uma personagem redonda está nela ser capaz de surpreender de modo convincente. Se ela nunca surpreende, é plana. Se não convence, é plana pretendendo ser redonda. (…) Todas as personagens de Dostoievski são redondas, diz ele.
 O outro expediente utilizado pelo escritor e mencionado por Forster refere-se ao ponto de vista a partir do qual a história é contada.  De acordo com Percy Lubbock, toda a intricada questão do método, no ofício da ficção, é governada pela questão do ponto de vista – a posição do narrador em relação à história. Em seu livro The Craft of Fiction, editado no Brasil com o título de A técnica da ficção,  ele diz que o romancista pode descrever as personagens do ponto de  vista exterior, seja como um espectador parcial ou imparcial ou assumir a onisciência e descrevê-las do ponto de vista interior ou ainda colocar-se no lugar de uma delas e fingir estar no escuro, em relação aos motivos das outras ou mesmo assumir atitudes intermediárias. Forster diz que os seus seguidores certamente vão conseguir estabelecer um fundamento certo para a estética da ficção, mas ele concorda apenas que toda questão de método é resolvida pela habilidade do escritor em fazer o leitor aceitar o que ele diz e não pelo uso de fórmulas. Lubbock, segundo ele, admite e admira tal poder no escritor, mas coloca-o nas bordas do problema e não no centro como o próprio Forster o coloca. E ele cita como exemplo Dickens, em Bleak House , que habilmente usa no primeiro capítulo narrador onisciente, no segundo, narrador parcialmente onisciente, no capítulo seguinte a personagem tem o comando, comando que o criador poderá tomar a qualquer momento das suas mãos, e seguir ele mesmo tomando notas, numa lógica absolutamente fragmentária, pouco importando as mudanças de pontos de vista. Para Forster, os leitores não fazem qualquer objeção a essa mistura de pontos de vista, que isto incomoda mais aos críticos literários do que a eles. Outro exemplo de variação de ponto de vista citado é o do romance Os Moedeiros Falsos  de André Gide – escritor obsessivo com a técnica, cuja lógica é fragmentária. Ora o narrador é onisciente, fica por trás e explica tudo, ora ele é parcialmente onisciente, ora é dramático e deixa a história ser contada pelos personagens. A diferença entre as duas narrativas reside em que as variações de pontos de vista em Dickens são instintivas, e em Gide são sofisticadas, com o autor denunciando o tempo inteiro o seu interesse pelo método. Por esta razão ele considera que a obra de Gide, embora  esteja entre as mais interessantes obras modernas, ela não se inclui entre as vitais, razão porque ele não pode aplaudi-la irrestritamente. Ele ainda cita Guerra e Paz  como exemplo de obra vital que nos transporta através da Rússia onisciente, semi-onisciente, dramatizada aqui ou acolá, como inspira o momento – e no final nos o aceitamos completamente. Mr.Lubbock não, é verdade: grande como considera o livro, considerá-lo-ia ainda maior se possuísse um ponto de vista; ele sente que Tolstoi não deu tudo o que poderia dar.
 Para Forster, as regras do jogo da escrita não são assim. O romancista pode mudar o seu ponto de vista, desde que obtenha o resultado esperado. E ele estabelece um paralelo disso com a própria vida; Somos mais estúpidos em algumas ocasiões que noutras; podemos penetrar na mente das pessoas às vezes, mas não sempre, porque o nosso próprio intelecto cansa; e esta descontinuidade empresta, no decorrer do tempo, variedade e colorido às nossas experiências.

Edward M Forster é um personagem redondo, com certeza, ele nos surpreende a cada página. Convida-nos para uma viagem difícil, árida,  maçante às vezes, mas ao final dela sentimos um prazer imenso, pelas muitas descobertas que nos propicia. Às vezes ficamos mareados com os seus volteios, mas logo passa e já ficamos prontos para seguir viagem outra vez com ele.

                          Jaboatão dos Guararapes, 07 de abril de 2009
                                                   Lourdes Rodrigues

quarta-feira, 23 de maio de 2012

T. S. ELIOT

A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK – T. S. ELIOT


Um dos mais belos poemas produzidos na literatura inglesa do século XX, “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”, com as suas imagens floridas em uma densa agonia destilada em versos livres, a traduzir um angustiante estado da alma, complexa, com palavras sopradas como uma canção simbolista, rumando ao vazio.
T. S. Eliot escreveu o poema em 1912, numa época de marasmo que se seguiu aos novos costumes trazidos pela Revolução Industrial, e o período de conturbações que culminaria com o início da Primeira Guerra Mundial. “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” só seria publicado pela primeira vez em 1915, na revista “Poetry”, e lançado no livro “Prufrock e Outras Observações”, em 1917, que trazia uma recolha de poemas do autor. Uma vez publicado, o poema deu uma outra visão à poesia inglesa que se espalhou pelo mundo.
Longo, angustiado e angustiante, T. S. Eliot mostra o medo de existir no tédio, a luta entre o desejo e a impotência, a existência e o envelhecer, a ansiedade de transitar em um novo mundo urbano e a necessidade de alienar-se a ele. Numa concepção metafísica, sentimentos e idéias interligam-se aos objetos em volta.
Na seqüência da epígrafe de Dante, “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” abre-se em um monólogo misterioso, quase familiar, nos antípodas da dicção vitoriana. Prufrock deambula entre imagens claras e sombrias, desenha-se o homem sensível, burguês, blasé, que oscila entre a erudição sublime dos sentimentos, traduzida por cantos de sereias e alusões a Michelangelo; e ao grotesco do cotidiano, revelado em imagens de hotéis baratos, de homens em mangas de camisa. Se ao início Prufrock conduz o desejo e a intenção de levar a amada para o quarto de hotel, por fim ele revela-se estéril diante do mundo.
O poema não deixa de ser uma canção de amor, bela e inquietante, que sopra sobre uma hesitação perene, os sentimentos parecem petrificados pela existência, oscilando entre o desejo e a estabilidade do tédio. As máscaras de Prufrock revelam-lhes os sentimentos e também o próprio T.S. Eliot.
A tradução do poema aqui apresentada é do português João Almeida Flor, que a designou como “uma ordem de construção musical”. Na transposição para a língua portuguesa, os versos ficaram maiores do que os do poema original. O tradutor preferiu estar atento aos ritmos sonoros e à musicalidade do poema. T. S. Eliot
Thomas Stearns Eliot nasceu em St. Louis, Estados Unidos, a 26 de setembro de 1888. Mudou-se para a Inglaterra aos 25 anos, em 1914. Em 1927, aos 39 anos, tornou-se cidadão britânico, e como tal, tornou-se um dos maiores representantes do modernismo britânico, sendo um dos seus principais poeta e dramaturgo.
A poesia de T. S. Eliot revela uma originalidade profunda e singular, repleta de muitas influências, entre elas a dos simbolistas franceses. Ao ler o livro “The Symbolist Movement in Literature”, de Arthur Symons, revelou-se-lhe uma grande influência, que culminaria com a poesia de Laforgue. Os estudos de filosofia auxiliaram o escritor a ter uma sensível concepção metafísica, ligando assim as palavras e idéias a objetos singulares, traduzindo-as em linguagem falada.
T. S. Eliot rompeu com a tradição poética do século XIX. Os temas da sua obra eram o vazio, a penitência, a redenção, a futilidade da existência, a angústia, a incerteza do tédio e a morte.
O escritor recebeu o prêmio Nobel de literatura em 1948. Era um homem angustiado com o tédio, um denso propagador da desolação vincada pelas palavras livres, límpidas em seus símbolos. Morreu em Londres, em janeiro de 1965.
A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock (tradução)
S’i credesse che mia risposta fosse
A persona che mai tornasse al mondo,
Questa fiamma staria senza più scosse.
Ma però che già mai di questo fondo
Non torno vivo alcun, s’i’odo il vero,
Sanza tema d’infamia ti rispondo.


(Dante Alighieri, La Divina Commedia, Inferno)


Então vem, vamos juntos os dois,
A noite cai e já se estende pelo céu,
Parece um doente adormecido a éter sobre a mesa;
Vem comigo por certas ruas semidesertas
Que são o refúgio de vozes murmuradas
De noites em repouso em hotéis baratos de uma noite
E restaurantes com serradura e conchas de ostra:
Ruas que se prolongam como argumento enfadonho
De insidiosa intenção
Que te arrasta àquela questão inevitável…
Oh, não perguntes “Qual será?”
Vem lá comigo fazer a tal visita.
Passeiam damas na sala para além e para aqui
E falam de Miguel Ângelo Buonarroti
A névoa amarela que esfrega as costas nas vidraças
O fumo amarelo que esfrega o focinho nas vidraças
Passou a língua dentro dos recantos da noite,
Demorou-se nos charcos que ficam na sarjeta,
Deixou cair nas costas a fuligem solta das chaminés,
Deslizou pelo terraço, de repente deu um salto,
E, ao ver serena aquela noite de Outubro,
Deu uma volta à casa, enroscou-se e dormiu.
Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas nas vidraças;
Haverá um tempo, tempo
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar o chá e a torrada.
Passeiam damas na sala para além e para aqui
E falam de Miguel Ângelo Buonarroti.
Haverá por certo um tempo
De pensar se corro tal risco. “Corro tal risco?”
Tempo de virar costas e descer as escadas
Com esta clareira calva no meio do cabelo –
(Hão-de dizer: “Este já tem pouco cabelo!”)
Com a casaca, colarinho hirto subido até ao queixo,
Gravata distinta e discreta mas ornada de um sóbrio alfinete –
(Hão-de dizer: “Que magro está, nos braços e nas pernas!”)
Vou correr o risco
De perturbar o universo?
Num só minuto há tempo
Para decisões e revisões, a revogar noutro minuto.
Pois já as conheço todas bem, conheço todas –
Sei as noites, as tardes, as manhãs,
Às colheres de café andei medindo a minha vida;
Sei que em breve agonia se esvaem as vozes
Abafadas na música de um quarto mais além.
Como havia eu de ousar, assim?
E já conheço os olhares, conheço todos –
Olhares que te reduzem a fórmulas e a dizeres,
E quando eu for apenas fórmula, esticado em alfinete,
Quando estiver na parede, trespassado, contorcido,
Como haverei então de começar
A cuspir as pontas de cigarro dos meus dias e jeitos?
E como havia eu de ousar, assim?
E já conheço os braços, conheço todos –
Braceletes nos braços brancos e nus
(Mas com uma penugem loira à luz do candeeiro)
Será pelo perfume de um vestido
Que sou levado assim a divagar?
Braços estendidos na mesa ou envoltos num xaile.
E havia eu de ousar assim?
Por onde havia eu de começar?
E se eu disser que dou passeios por becos quando anoitece,
E vou fitando o fumo que sobe do cachimbo
De homens em mangas de camisa, à janela, solitários?…
Eu devia ter sido um ferro de duas garras
A rasgar o fundo desses mares de silêncio.
E a tarde, a noite, a dormir tão sossegada!
Afagada por dedos esguios,
A dormir… exausta… ou a fingir,
Estirada aqui no chão, à beira de nós dois.
Depois do chá, dos bolos, dos gelados, eu tinha ainda
Aquela força que provoca a crise do instante?
Mas apesar de lágrimas e jejuns, lágrimas e preces,
E apesar de ter visto a minha cabeça (um tanto calva já) ser entreguenuma salva,
Não sou nenhum profeta – e isso pouco importa;
Já vi tremer o meu instante de esplendor
E vi o eterno lacaio agarrar-me a casaca, rindo sorrateiro,
E bastará dizer que tive medo.
E tinha valido a pena, depois de tudo isto,
Depois da geleia, das xícaras, do chá,
Entre porcelanas, a meio de qualquer conversa de nós dois,
Tinha valido a pena
Ter rematado o assunto com um sorriso,
Ter estreitado o universo numa bola
E fazê-la rolar, rumo a qualquer questão inevitável,
E dizer: “Sou Lázaro e venho de entre os mortos.
Voltei para vos contar tudo, vou contar-vos tudo” –
Se alguém, ajeitando a cabeça dela numa almofada,
Dissesse: “Não era nada disso que eu queria dizer
Não é isso, nada disso.”
E tinha valido a pena, depois de tudo,
Tinha mesmo valido a pena,
Depois dos pátios, dos poentes, das ruas chuviscadas,
Dos romances, das xícaras de chá, das saias arrastando pelo chão –
E depois disto e tantas coisas mais? –
Não é possível dizer mesmo o que quero dizer!
Mas se uma lanterna mágica mostrasse na tela a imagem dos nervos:
Tinha valido a pena
Se alguém, compondo a almofada ou tirando um xaile,
Dissesse, ao voltar-se para a janela:
“Não é isso, nada disso,
Não era nada disso que eu queria dizer.”
Não! Não sou o príncipe Hamlet e nem tinha que ser;
Sou um fidalgo da corte, desses que servem
Para aumentar a comitiva, abrir uma ou duas cenas,
Dar conselhos ao príncipe; instrumento dócil, é claro,
Reverente, satisfeito por ser prestável,
Político, meticuloso e avisado;
Cheio de sentenças doutas, um tanto obtuso todavia;
Às vezes, por sinal, quase ridículo –
Quase o bobo, às vezes.
Estou a ficar velho… Estou a ficar velho…
Hei-de andar com a dobra da calça revirada.
E se eu puxar atrás o risco do cabelo? Arrisco-me a trincar
um pêssego?
Hei-de vestir calça de flanela branca e passear na praia.
Já ouvi as sereias cantando, umas às outras.
Creio que para mim não vão cantar.
Tenho-as visto na direcção do mar a cavalgar as ondas
Penteando crinas brancas de ondas encrespadas
Quando o vento revolve as águas escuras e brancas.
Ficámos nas mansões do mar nós dois em abandono
Entre as ondinas com grinaldas de algas castanhas purpurinas
Até que vozes humanas nos despertam e morremos naufragados.
Tradução: João Almeida Flor
The Love Song of J. Alfred Prufrock (original)
S’i credesse che mia risposta fosse
A persona che mai tornasse al mondo,
Questa fiamma staria senza più scosse.
Ma però che già mai di questo fondo
Non torno vivo alcun, s’i’odo il vero,
Sanza tema d’infamia ti rispondo.

(Dante Alighieri, La Divina Commedia, Inferno)

Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherized upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question. . .
Oh, do not ask, “What is it?”
Let us go and make our visit.
In the room the women come and go
Talking of Michelangelo.
The yellow fog that rubs its back upon the window-panes
The yellow smoke that rubs its muzzle on the window-panes
Licked its tongue into the corners of the evening
Lingered upon the pools that stand in drains,
Let fall upon its back the soot that falls from chimneys,
Slipped by the terrace, made a sudden leap,
And seeing that it was a soft October night
Curled once about the house, and fell asleep.
And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions
And for a hundred visions and revisions
Before the taking of a toast and tea.
In the room the women come and go
Talking of Michelangelo.
And indeed there will be time
To wonder, “Do I dare?” and, “Do I dare?”
Time to turn back and descend the stair,
With a bald spot in the middle of my hair -
[They will say: "How his hair is growing thin!"]
My morning coat, my collar mounting firmly to the chin,
My necktie rich and modest, but asserted by a simple pin -
[They will say: "But how his arms and legs are thin!"]
Do I dare
Disturb the universe?
In a minute there is time
For decisions and revisions which a minute will reverse.
For I have known them all already, known them all;
Have known the evenings, mornings, afternoons,
I have measured out my life with coffee spoons;
I know the voices dying with a dying fall
Beneath the music from a farther room.
So how should I presume?
And I have known the eyes already, known them all -
The eyes that fix you in a formulated phrase,
And when I am formulated, sprawling on a pin,
When I am pinned and wriggling on the wall,
Then how should I begin
To spit out all the butt-ends of my days and ways?
And how should I presume?
And I have known the arms already, known them all -
Arms that are braceleted and white and bare
[But in the lamplight, downed with light brown hair!]
Is it perfume from a dress
That makes me so digress?
Arms that lie along a table, or wrap about a shawl.
And should I then presume?
And how should I begin?
Shall I say, I have gone at dusk through narrow streets
And watched the smoke that rises from the pipes
Of lonely men in shirt-sleeves, leaning out of windows? . . .
I should have been a pair of ragged claws
Scuttling across the floors of silent seas.
And the afternoon, the evening, sleeps so peacefully!
Smoothed by long fingers,
Asleep . . . tired . . . or it malingers,
Stretched on the floor, here beside you and me.
Should I, after tea and cakes and ices,
Have the strength to force the moment to its crisis?
But though I have wept and fasted, wept and prayed,
Though I have seen my head (grown slightly bald) brought in upon a platter,
I am no prophet–and here’s no great matter;
I have seen the moment of my greatness flicker,
And I have seen the eternal Footman hold my coat, and snicker,
And in short, I was afraid.
And would it have been worth it, after all,
After the cups, the marmalade, the tea,
Among the porcelain, among some talk of you and me,
Would it have been worth while,
To have bitten off the matter with a smile,
To have squeezed the universe into a ball
To roll it toward some overwhelming question,
To say: “I am Lazarus, come from the dead,
Come back to tell you all, I shall tell you all”
If one, settling a pillow by her head,
Should say, “That is not what I meant at all.
That is not it, at all.”
And would it have been worth it, after all,
Would it have been worth while,
After the sunsets and the dooryards and the sprinkled streets,
After the novels, after the teacups, after the skirts that trail along the floor -
And this, and so much more? -
It is impossible to say just what I mean!
But as if a magic lantern threw the nerves in patterns on a screen:
Would it have been worth while
If one, settling a pillow or throwing off a shawl,
And turning toward the window, should say:
“That is not it at all,
That is not what I meant, at all.”
No! I am not Prince Hamlet, nor was meant to be;
Am an attendant lord, one that will do
To swell a progress, start a scene or two
Advise the prince; no doubt, an easy tool,
Deferential, glad to be of use,
Politic, cautious, and meticulous;
Full of high sentence, but a bit obtuse;
At times, indeed, almost ridiculous -
Almost, at times, the Fool.
I grow old . . . I grow old . . .
I shall wear the bottoms of my trousers rolled.
Shall I part my hair behind? Do I dare to eat a peach?
I shall wear white flannel trousers, and walk upon the beach.
I have heard the mermaids singing, each to each.
I do not think they will sing to me.
I have seen them riding seaward on the waves
Combing the white hair of the waves blown back
When the wind blows the water white and black.
We have lingered in the chambers of the sea
By sea-girls wreathed with seaweed red and brown
Till human voices wake us, and we drown.
Cronologia

1888 – Nasce a 26 de setembro, em St. Louis, Missouri, EUA, Thomas Stearns Eliot.
1898 – Torna-se estudante da Smith Academy, em St. Louis.
1905 – Freqüenta a Milton Academy, em Massachusetts.
1906 – Entra para Harvard. Lê o livro “The Symbolist Movement in Literature”, de Arthur Symons. Conhece a poesia de Laforgue.
1910 – Termina licenciatura em Harvard.
1912 – Termina o poema “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”.
1914 – Muda-se para a Inglaterra. Reúne-se com Ezra Pound.
1915 – Casa-se com Vivien Haigh-Wood. Publica “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” pela primeira vez, na revista “Poetry”.
1916 – Trabalha como professor em Highgate Junior School.
1917 – Publica “Prufrock e Outras Observações”.
1922 – Publicado “A Waste Land”.
1927 – Torna-se cidadão britânico.
1928 – Publica “Lancelot Andrewes”.
1933 – Separa-se judicialmente de Vivien Haigh-Wood.
1940 – Publicado “East Coker”.
1941 – Publicado “A Dry Salvages”.
1947 – Morre Vivien Eliot.
1948 – Laureado com o Prêmio Nobel de Literatura.
1957 – Casa-se com Valerie Fletcher.
1965 – Morre em 4 de janeiro. Suas cinzas são levadas para East Coker.

sábado, 12 de maio de 2012

Sandor Marai

*AS BRASAS, de Sándor Márai
                                César Garcia
 Romance denso sobre a amizade e a traição. Dois homens, ambos militares, amigos desde a infância, encontram-se para tirar dúvidas depois de quarenta e um anos de um afastamento aparentemente inexplicável. A conversa dura toda uma noite e ocupa cem páginas das cento e setenta e duas do livro. O general, Henrik, dono do castelo em que se encontram, fala quase o tempo todo e apenas pede que o amigo, Konrad, responda às suas perguntas. São duas, as principais: se o amigo tinha tido um romance secreto com Krisztina, mulher do general e se, na última caçada, ele apontara a arma para a sua cabeça a fim de matá-lo, e não para o cervo que se encontrava na mesma linha.  O autor, de nacionalidade húngara, nasceu em 1900 e morreu em 1989. No Brasil, a Companhia das Letras publicou também O Legado de Ezter, Veredicto em  Canudos, Divórcio em Buda, Rebeldes, Confissão de um Burguês, De verdade e Libertação.
Veredicto em Canudos, a ação se passa no sertão da Bahia e foi escrita em 1960, depois de ler Os Sertões de Euclides da Cunha. 
Sándor Márai publicou mais de 60 livros.

 Em 1989, 
 suicida-se Morava em San Diego, nos EUA.
EXCERTO DE AS VELAS ARDEM ATÉ O FIM  DE SÁNDOR MARAI
ENVELHECER
Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o significado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer… Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exatidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal… e isso é precisamente a velhice.


* Tradução de Rosa Freira D´Águiar – Companhia das Letras, 172 p.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Pablo Neruda – Poemas Originais Selecionados


O POÇO
Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
( Pablo Neruda )
*
O TEU RISO
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
( Pablo Neruda )
*
TUAS MÃOS
Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?
Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.
A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.
( Pablo Neruda )
*
SE CADA DIA CAI
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
( Pablo Neruda )
*
ESPEREMOS
Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
( Pablo Neruda )
*
ACONTECE
Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.
Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.
Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.
Que entrevista espaçosa e especial!
( Pablo Neruda )
*
QUERO SABER
Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com u te dou o meu
com uma condição: não nos compreender
( Pablo Neruda )
*
Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.
( Pablo Neruda )
*
A NOITE NA ILHA
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora – pão,
vinho, amor e cólera – te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.
( Pablo Neruda )
*
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
( Pablo Neruda )
*
Aqui eu te amo.
Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforece a lua sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-se.
Descinge-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.
Só.
As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.
Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
Já me creio esquecido como estas velha âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento,
querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.
( Pablo Neruda )
*
Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado, lanãa das dores,
corola da colera, por que caminhos
e como te dirigiste a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso, de repente,
entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
que flor, que pedra, que fumaãa
mostraram minha morada?
O certo é que tremeu noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taãas com teu vinho
e o sol estabeleceu sua presenãa celeste,
enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas
e espinhos abriu no coração um caminho queimante.
( Pablo Neruda )
*
De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.
Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.
( Pablo Neruda )
*
O VENTO NA ILHA
O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.
Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama calopando
para me levar para longe.
Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopandanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.
( Pablo Neruda )
*
Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como âmbar dormido…
Nenhuma mais, amor, dormira com meus sonhos…
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.
sempre viva. sempre sol… sempre lua…
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo…
teus olhos se fecharam como
duas asas cinzas, enquanto eu sigo a água
que levas e me leva.
A noite… o mundo… o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho…
( Pablo Neruda )
*
GOSTO QUANDO TE CALAS
Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
( Pablo Neruda )
*
Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.
E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.
( Pablo Neruda )
*
Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas pernas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um so mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.
( Pablo Neruda )
*
POEMA #20
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe”.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
( Pablo Neruda )
*
TALVEZ
Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás…Seremos…
( Pablo Neruda )
*
Vês estas mãos?
Mediram a terra, separaram os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra, derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios,
e, no entanto, quando te percorrem a ti,
pequena, grão de trigo, andorinha,
não chegam para abarcar-te,
esforçadas alcançam as palomas gêmeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias de tuas pernas,
enrolam-se na luz de tua cintura.
Para mim és tesouro mais intenso de imensidão
que o mar e seus racimos
e és branca, és azul e extensa como a terra na vindima.
Nesse território, de teus pés à tua fronte,
andando, andando, andando, eu passarei a vida.
( Pablo Neruda )
*
É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.
( Pablo Neruda )
*
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
( Pablo Neruda )
*
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.
( Pablo Neruda )
*
É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.
( Pablo Neruda )
*
Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.
( Pablo Neruda )
*
WALKING AROUND
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
( Pablo Neruda )
*
OS TEUS PÉS
Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.
( Pablo Neruda )
*
ANGELA ADONICA
Hoje deitei-me junto a uma jovem pura
como se na margem de um oceano branco,
como se no centro de uma ardente estrela
de lento espaço.
Do seu olhar largamente verde
a luz caía como uma água seca,
em transparentes e profundos círculos
de fresca força.
Seu peito como um fogo de duas chamas
ardía em duas regiões levantado,
e num duplo rio chegava a seus pés,
grandes e claros.
Um clima de ouro madrugava apenas
as diurnas longitudes do seu corpo
enchendo-o de frutas extendidas
e oculto fogo..
( Pablo Neruda )
*
POEMA XLIV
Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.
( Pablo Neruda )
(Retirado de: Cem sonetos de amor)
Conheça Também:
Fundação Pablo Neruda

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pablo Alborán - Desencuentro



No puedo seguir
buscando tu aroma en el viento
no puedo mentir
y ocultar lo que siento
Intento vivir sufriendo bajo este silencio y de nuevo por ti
me hundo en un infierno
no era prisionero de tus
labios y ahora que estas lejos yo te deseo como el aire
del baile de tu cuerpo
Puedes olvidar mi nombre
puedes olvidar mis besos
pero en el aire permanece
mi voz y mi recuerdo.
Sufriendo por ti me pierdo en un mar de dudas
me mata este dolor, me ahoga mis lagrimas
en dudas mi mar es cada noche mi cuerpo y mi alba haces
lloras mis ojos haces que pierda la calma
No era prisionero de tus labios y ahora que estás lejos
Te deseo como el aire del baile de tu cuerpo
no era prisionero de tus labios y ahora que estas lejos
Yo te deseo como el aire del baile de tu cuerpo
Puedes olvidar mi nombre
Puedes olvidar mis besos
Pero en el aire permanece
mi voz y mi recuerdo

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Carlos Drummond de Andrade




Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



As sem razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.



Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.



Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?



Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
 Compiladas por  Luis Rodrigues  
Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG, 1902 - Rio de Janeiro RJ, 1987) formou-se em Farmácia, em 1925; no mesmo ano, fundava, com Emílio Moura e outros escritores mineiros, o periódico modernista A Revista. Em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde, que ocuparia até 1945. Durante esse período, colaborou, como jornalista literário, para vários periódicos, principalmente o Correio da Manhã. Nos anos de 1950, passaria a dedicar-se cada vez mais integralmente à produção literária, publicando poesia, contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Entre suas principais obras poéticas estão os livros Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Poemas (1959), Lição de Coisas (1962), Boitempo (1968), Corpo (1984), além dos póstumos Poesia Errante (1988), Poesia e Prosa (1992) e Farewell (1996). Drummond produziu uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX. Forte criador de imagens, sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia.